Xeque-mate! Essa frase representa o ápice para um jogador de xadrez. Quem a diz venceu a partida após um exaustivo exercício de concentração e estratégia. Mas muitas pessoas popularizaram essa expressão sem de fato saber o que significa. O xadrez, por sua vez, não se popularizou na mesma proporção, e ainda é um esporte pouco difundido no Brasil. Porém, essa situação tende a mudar. Cada vez mais, as escolas oferecem em suas grades escolares o xadrez como atividade complementar de ensino. Como já dizia o romancista e cientista alemão Johann Wolfgang Von Goethe, “o xadrez é a ginástica da inteligência”.
No Brasil, acredita-se que o jogo chegou junto com os portugueses em 1500. Pela falta de documentos, estima-se que o registro mais antigo da prática de xadrez no mundo foi numa pintura egípcia que mostra duas pessoas jogando algo parecido, há cerca de 3000 anos a.C. Mas o fato é que o xadrez cresceu. Um exemplo é o uso que se fez deste esporte na Guerra Fria, momento em que Estados Unidos e União Soviética lutavam pela hegemonia. Ambos queriam demonstrar ao mundo e ao adversário sua superioridade em poder bélico, corrida espacial, artes e esportes, sobretudo no xadrez.
Em 1972 foi disputada em Reykjavich, capital da Islândia, uma partida pelo Campeonato Mundial de Xadrez. De um lado o norte-americano Bobby Fischer e, do outro, o soviético Boris Spasski, campeão da época. A vitória significaria uma superioridade intelectual sobre o adversário. Após um mês de disputa entre os dois competidores, Bobby Fischer sagrou-se o primeiro e único norte-americano campeão mundial de xadrez.
A derrota soviética não impediu que a Rússia se tornasse uma das maiores potências na prática do xadrez. Lá esse esporte é tão popular como o futebol é para os brasileiros. O instrutor e árbitro da Federação Internacional de Xadrez, Renato Gino Genovesi, disse que o Brasil está “engatinhando” em relação à Rússia. “Aqui o xadrez nas escolas está em fase de implantação e os primeiros resultados começam a ser observados, através do aumento no número de jogadores federados nas categorias menores”, esclarece. Ele acredita que somente com a consolidação do xadrez nas escolas e universidades é que se poderá pensar em investimentos na qualidade técnica dos jogadores. “O objetivo é aumentarmos a quantidade para depois tirarmos a qualidade”, ressaltou.
Para Renato Gino, a principal dificuldade do xadrez é “sua divulgação na mídia televisiva, uma vez que uma partida pode durar até seis horas. Outra dificuldade é a falta de jornalistas especializados e o fato da prática do xadrez ainda não fazer parte da cultura da população brasileira”, observa. Por outro lado, segundo Gino, “é o esporte que possui uma das maiores mídias na internet, com seus jogos eletrônicos”. Ele explica, ainda, que o xadrez não é um esporte de elite. “Isso se deve ao fato de seus equipamentos serem um dos mais baratos existentes no mercado, em comparação com os das outras modalidades”.
Nos últimos anos, o tema “xadrez e educação” tem estado presente nos debates institucionais. Segundo Gino, o trabalho pedagógico é realizado em diversos países. Em 1986, a Federação Internacional de Xadrez (FIDE) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) criaram uma comissão para o Xadrez nas Escolas visando a sua difusão como instrumento pedagógico e cultural, através da comprovação dos seguintes benefícios: aumento da atenção e concentração, da capacidade de julgamento e antecipação, desenvolvimento da imaginação e da memória, vontade de vencer, paciência, autocontrole, espírito de decisão e coragem, lógica matemática, raciocínio analítico e sintético, criatividade, inteligência, organização metódica do estudo e o interesse por outros idiomas.
Em início de carreira e com apenas 17 anos de idade, o universitário Schinaider Linhares de Sá disse que esse esporte vem mudando sua vida. “Consegui desenvolver e usar uma visão lógica do mundo, onde cada lance acarreta uma conseqüência”, afirmou. Falando do seu estilo de jogo, ele avisou: “Eu jogo de maneira agressiva e tento ver o maior número de lances possíveis. Com certeza muitas pessoas condenam esse tipo de postura, mas pra mim tem dado certo até agora”, analisou. Ele ainda disse que pretende continuar treinando e melhorar seu nível para possíveis campeonatos, mas desabafou: “Ainda não é uma boa seguir carreira, faltam incentivos para essa modalidade no Brasil. Vou continuar praticando, mas terei que ter outra profissão para me sustentar”.
A escolha pelo xadrez, segundo Schinaider, “foi tomada de maneira natural. Sempre gostei de jogos de raciocínio e de estratégia”. Sobre a paixão do brasileiro por futebol, ele reflete: “Esse esporte é o número um na vida da maioria dos povos, mas isso não interferiu na minha escolha. Gosto de futebol também!”.
As fotos do É Craque! são todas de divulgação
“Ginástica da inteligência”
Por Bruno Félix
Postado por Bruno Félix às 13:08
Marcadores: Matérias Especiais
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