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Pressão em Pequim


Derrota. Uma palavra que pesa para quem não está acostumado a perder e certamente está soando no ouvido de todos os jogadores da seleção brasileira de vôlei, desde domingo, quando perderam a disputa pelo terceiro lugar da Liga Mundial e pela primeira vez em dez anos ficaram fora de um pódio. Não é diferente para o goiano Dante, um dos melhores em quadra nas inesperadas derrotas, que ainda não saem da cabeça do ponteiro. "Foram duas derrotas marcantes, é difícil cicatrizar, mas precisamos voltar a vencer", afirma.

E para ele – e todos os brasileiros, diga-se de passagem – não existe melhor lugar do que nas Olimpíadas de Pequim. Como o próprio Dante gosta de dizer "queremos fechar esse ciclo com chave de ouro". Ele explica: "Quando falo em ciclo, é que de quatro em quatro anos começa um ciclo que termina nos Jogos Olímpicos".

E a essa altura, ainda digerindo duas derrotas amargas em casa, não há mesmo como pensar em outra coisa. A preparação continua intensa aos favoritos a medalha de ouro. Mas Dante tem os pés no chão: "Favoritismo não ganha jogo, isto ficou provado na Liga, nosso grupo agora está focado em Pequim". De treino de luxo a pesadelo de luxo, a Liga Mundial deste ano não vai atrapalhar as ambições de cada um, muito menos as de Dante, que em entrevista exclusiva ao É Craque!, revelou que sempre detestou perder. "Não entro em quadra pensando que existe a possibilidade de uma derrota".

É com esse espírito otimista e determinado que Dante conta como o grupo encarou a difícil ausência do pódio e como isso serviu de lição para as Olimpíadas, além da renovação que vem ocorrendo no grupo. Leia a íntegra da entrevista:

É Craque! - Na era Bernardinho, é a primeira vez que a seleção brasileira de vôlei fica fora do pódio. Como foi este momento para você?

Dante - Triste e estranho. Um dia depois daquela dia, dormimos com a imagem da seleção dos Estados Unidos no lugar mais alto do pódio. Mas, as derrotas servem como estímulo para voltar a vencer. Agora é hora de levantar a cabeça. A Liga Mundial é uma página virada para a seleção. Acredito que não tem como se manter este nível sempre, mas queremos fechar esse ciclo com chave de ouro. Quando falo em ciclo, é que de quatro em quatro anos começa um ciclo que termina nos Jogos Olímpicos.

É Craque! - A derrota serve como um sinal de alerta para Pequim?

Dante - Claro. A seleção sempre que entra em quadra, entra pressionada. Temos a consciência que já ganhamos tudo que um time de voleibol pode vencer, mas sempre queremos mais. Estamos tristes por não ter conquistado a Liga diante de nossa torcida. Isso comprova que ninguém é imbatível, quando se joga mal é normal perder. Contra os Estados Unidos, não sei o que aconteceu, eles estavam muito bem taticamente e errando pouco. Contra a Rússia, a noite mal dormida após a derrota e sem forças foram fundamentais para a derrota.

É Craque! – De treino de luxo, a Liga Mundial se tornou um pesadelo de luxo?

Dante - (Risos) Todos falavam que era um treino de luxo, inclusive eu, mesmo assim não é desculpa para a derrota. Nosso grupo estava fechado, queríamos vencer a Liga e igualar as oito conquistas da Itália, mas não deu. Menos mal que tem todo ano. Mas, por outro lado, foi positivo para observarmos as outras seleções. Uma coisa que deixou o grupo todo espantado foi a ausência da Búlgaria nas finais da Liga. Na minha opinião, eles podem complicar nossa vida em Pequim.

É Craque! - Jogar em casa é complicado?

Dante - Não sei o que acontece. Gostamos muito de jogar com nossa torcida, crescemos mais durante as partidas. Mas, tomara que se repita a mesma história de 2003. Naquele ano, perdemos para a Rússia, e depois fomos campeões mundiais e mais tarde olímpicos. Deve ser azar mesmo.

É Craque! - Como encarar este momento chato?Dante - Nosso grupo é experiente. Foram duas derrotas marcantes, é difícil cicatrizar, mas precisamos voltar a vencer. Em Pequim, vamos defender nosso título, todos querem vencer o Brasil. O mais importante é a força do nosso grupo que sempre conseguiu reverter os momentos críticos em um curto espaço de tempo. Todos aqui na seleção têm a capacidade de aprender com a derrota.

É Craque! – Então, perder serve como uma lição?

Dante - Com certeza, mas vou te dizer que odeio perder. Não entro em quadra pensando que existe a possibilidade de uma derrota, sempre entro para vencer. Desde menino nunca gostei de perder ou empatar quando jogava futebol. Mas dá para se tirar uma lição: o esporte é assim, quem joga melhor vence.

É Craque! - Alguns jogadores se pouparam na Liga?

Dante - Acredito que não. Todos queriam vencer. Não nego que exista momentos em que você pensa: poxa vida daqui a alguns dias estarei representando o Brasil nas Olimpíadas, o que acaba fazendo com que você tire um pouco o pé com medo de se machucar.

É Craque! - A seleção vive uma renovação?

Dante - É natural uma renovação num time que vem ganhando tudo há 10 anos. Após os Jogos todo mundo já sabe que Gustavo, Marcelinho e o Anderson irão deixar a seleção. Mas temos jogadores a altura para substituí-los, como é o caso do Samuel e Bruno. Para esta renovação continuar acontecendo é preciso investir mais e criar leis de incentivo ao esporte. Um jogador só se torna de alto nível com apoio. Não é fácil chegar aonde chegamos sem suporte.

É Craque! - A seleção pode ser considerada favorita em Pequim?

Dante - Todos falam que somos os favoritos. Mas favoritismo não ganha jogo, isto ficou provado na Liga. Nosso grupo agora está focado para Pequim, que servirá como uma resposta para nós mesmos, provando que somos capazes de continuar no topo.

É Craque! - Pronto para Pequim?

Dante - Ansioso. Fui uma vez a China, há 10 anos. Não me recordo muita coisa de lá. Aproveito para deixar um recado para o povo goiano: acreditem na seleção, não vai faltar treinamento e garra. Este ouro só não vem para o Brasil se os caras jogarem muito. Se Deus quiser vamos conquistar mais uma medalha de ouro.

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