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Crise mundial chegou ao futebol

Por Bruno Félix

O charme das transferências milionárias para os clubes europeus está seriamente ameaçado nas próximas temporadas por causa da crise econômica, que começou nos Estados Unidos e espalhou-se pelo mundo. Com menos capital girando, o mercado tende a não permitir orçamentos astronômicos como no caso do atacante Alexandre Pato, que, com apenas 17 anos, foi vendido este ano pelo Internacional para o Milan, da Itália, por 20 milhões de dólares (cerca de R$ 43 milhões).

As principais alternativas para combater os efeitos da crise devem ser a redução dos altos salários e dos negócios com mercados emergentes, como os Emirados Árabes. Isso porque o mercado europeu está fragilizado. A maioria dos clubes são empresas, com ações nas bolsas de valores e que respondem a conselho de acionistas na hora de contratar, o que acaba exigindo estudos aprofundados em relação ao custo-benefício.

Clubes como Newcastle, Manchester United e alguns outros têm ações negociadas na City, a Bolsa de Valores de Londres, e, com a crise, sofreram duros golpes nas cotações de mercado. O milionário russo Roman Abramovich, dono do Chelsea, perdeu mais de R$ 43 milhões com a queda no valor das ações da sua empresa Evraz (produtora de aço), segundo a agência (de notícias?) Bloomberg. Situação complicada também vive o clube inglês West Ham. O patrocinador XL (empresa de viagem) faliu. O proprietário, o islandês Bjorgolfur Gudmundsson, perdeu quase toda a fortuna com a crise em seu banco, o Landsbanki.

No futebol italiano, a crise já afeta a Lazio. O clube simplesmente não consegue achar um patrocinador. Na Alemanha, os acordos de transmissão da Bundesliga acabam em meados de 2009 e o temor é de que o valor seja revisto para baixo. A conseqüência seria uma renda menor para todos os clubes.

No Brasil, Botafogo e Flamengo estão com a folha salarial atrasada por falta de crédito. Antes, os clubes atrasavam os salários, mas tinham confiança na realização dos pagamentos. Hoje, dependem dos investimentos dos bancos. Outro gigante do futebol brasileiro, o Atlético Mineiro, anunciou problemas para quitar os dois meses de salários atrasados. O Galo mineiro não vem conseguindo empréstimos bancários para quitar as dívidas. Os clubes brasileiros, normalmente, tomam dinheiro em bancos e oferecem, em troca, as cotas de televisão do futuro. Já o Vitória (BA) deve a um antigo parceiro US$ 3 milhões, que são pagos em prestações. Com a alta do dólar, a dívida ficou mais cara.

Para o coordenador do curso de economia da Faculdade Alfa, Júlio Paschoal, a crise afetou o setor produtivo americano e, consequentemente, as empresas que patrocinam os clubes podem parar de investir. "Realmente, no mercado da bola é possível acontecer mudanças. Você não vai ver um jogador desconhecido internacionalmente como o lateral-direito do Goiás Vitor se transferir por uma cifra exorbitante como foi o caso do Renato Augusto do Flamengo. É muito dinheiro", diz o economista.

Por outro lado, ele analisa que o meia Alex do Internacional e o atacante Keirrison do Coritiba podem ser exceções pelo desempenho na temporada. Segundo o especialista, é preciso avaliar o dinheiro nos mercados, fluxo de caixa dos clubes e a raridade dos craques. "Quando o jogador se destaca no contexto do futebol, os grandes clubes farão esforços para ter o atleta no elenco. Tudo que é escasso tem preço", destaca.

Futebol Goiano também pode ser afetado

Com a crise mundial, os três grandes clubes da capital já começam a fazer planejamentos para a temporada 2009. No Vila Nova, a prioridade foi reduzir a folha salarial atual de R$ 500 mil para R$ 300 mil. As primeiras medidas do colorado foram as dispensas dos talismãs Alex Oliveira, Túlio Maravilha, Heleno e Wando. Segundo o presidente do clube, Sizenando Ferro, é preciso fazer uma adequação no piso salarial do elenco vilanovense para suportar o momento de crise. "Vamos fazer um time mais competitivo, mas com salários mais baixos. Outra proposta é investir na categoria de base para que o Vila possa ser auto-suficiente",explica.

Apostar nas categorias de base também é a receita do presidente do Goiás, Pedro Goulart. Ele diz que para próxima temporada o momento mundial pode apresentar uma redução drástica de investimentos no futebol, o que, por tabela, atinge os goianos. "Acredito que será difícil vender outro jogador por R$ 23 milhões como foi o caso do atacante Welington, vendido para o futebol russo. Por outro lado, os clubes devem se concentrar nas divisões de base para buscar a sobrevivência no futebol", destaca. Atualmente o Goiás tem um folha salarial de R$ 700 mil.

O diretor de futebol do Atlético, Ádson Batista, disse que a melhor forma de encarar a crise que pode chegar ao futebol é trabalhar dentro da realidade do clube. "O problema está nos altos salários. Na próxima temporada, não vai ter mais essa de jogador ganhando R$ 200 mil mensal. É preciso combater essa política futebolística adotada pelos grandes clubes", destaca. No rubro-negro, a média salarial gira em torno de oito a dez mil reais por jogador. Ádson destaca que é possível montar um time competitivo sem salários astronômicos. "Foi a fórmula do sucesso. Tínhamos um elenco de Série B disputando a terceira divisão", analisa.

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