A demissão do técnico Luiz Felipe Scolari, o Felipão, pentacampeão mundial em 2002 com a seleção brasileira, do poderoso Chelsea, no início do mês de fevereiro, causou forte reboliço na imprensa mundial. E não é para menos. Campeão em todos os clubes pelos quais passou, herói em Portugal, por causa do resgate do futebol português no velho continente, o que poderia se esperar do seu trabalho? Títulos e vitórias convincentes. Pois é! A campanha dos Blues não encantou os torcedores e muito menos o chefão do time londrino, o russo Roman Abramovich. Sendo assim, a alternativa foi a demissão. Ele caiu após empatar em 0 a 0 com o Hull City, pela 25ª rodada do Campeonato Inglês. Em sete meses no comando do Chelsea, Scolari conquistou 19 vitórias, dez empates e sete derrotas. Ele também não colecionou nenhuma vitória nos clássicos: contra o Manchester United, empate em 1 a 1 e derrota por 3 a 0; diante do Arsenal, derrota de 2 a 1; e fracassos de 2 a 0 e 1 a 0 para o Liverpool. O holandês Guus Hiddink foi contratado para o posto. Ele que é o atual técnico da seleção da Rússia.
O surpreendente é o que vem a seguir. Bastaram três jogos sob o comando de Hiddink (vitórias de 1 a 0, contra Aston Villa e 2 a 1 no Wigan pelo Inglês e 1 a 0 na Juventus, pela oitavas-de-final da Liga dos Campeões) para notar a perceptível evolução dos mesmos jogadores da era Felipão. Em outras linhas: os jogadores dos azuis vêm jogando muita bola nas últimas partidas. O impressionante é a vibração, espírito de luta e, principalmente, um futebol mais bonito e ofensivo, tudo que na “família Scolari não acontecia”. As características ficaram evidentes no triunfo do meio da semana passada, contra a Juventus. Por que o Chelsea mudou da água para o vinho em menos de um mês? Acredito que o Felipão sabe bem a resposta. Traição.
Dias depois de ser demitido, ele fez declarações contra três jogadores, que, segundo o comandante, estavam boicotando o seu trabalho: “Ballack, Drogba e Cech se tornaram meus inimigos. Eles têm uma linha direta com Abramovich”, disparou. Além disso, dois outros problemas atrapalharam a gestão de Felipão. Primeiro, a imprensa inglesa, que perseguia o treinador nas entrevistas coletivas. Por não falar o idioma com fluência, os jornalistas locais faziam perguntas embaraçosas que ele não entendia perfeitamente. Com isso, a presença de um intérprete era fundamental. Segundo, antes de assumir os Blues, Abramovich garantiu reforços de peso para compor o elenco. Ficou somente na promessa. O único que chegou ao clube, e por empréstimo, foi o português Ricardo Quaresma. Porém, esses problemas de idioma e reforços ele estava levando na boa. Se Hiddink conta com os mesmos jogadores no plantel do Chelsea, porque que o time está rendendo mais nos jogos pós-Felipão? Seria a filosofia européia? Acostumados com treinamentos voltados para força e marcação, os jogadores não se adaptam aos métodos Sul-Americano de passe de bola. Isso pode até fazer diferença, mas não o suficiente para uma mudança radical no comportamento em campo. A queda do pentacampeão mundial colocou em xeque o trabalho dos técnicos brasileiros no futebol europeu.
Anteriormente, em 2004/2005 e do início até a metade da temporada 2005/2006, o papão de títulos do Campeonato Brasileiro (5), Vanderlei Luxemburgo, teve experiência semelhante. No Real Madri, ele não suportou a pressão da torcida por causa de maus resultados e foi demitido, após 11 meses de trabalho. Na frente dos merengues, Luxa conquistou 28 vitórias, cinco empates e dez derrotas, em 43 confrontos. O treinador saiu sem ter conquistado nenhum título, assim como Felipão. No seu lugar foi contratado o espanhol Juan Ramón López Caro, que apenas cumpriu tabela. No ano seguinte, o italiano Fábio Capello assumiu e conquistou o título espanhol, que não vinha há três temporadas. Na 2007/2008, o bicampeonato do nacional foi conquistado sob o comando do alemão Bemd Schuster. Hoje, o comando é de outro alemão, Juande Ramos. Na tabela, o Real Madri é o segundo, com 56 pontos, a quatro do líder Barcelona.
Em resumo: Felipão e Vanderlei não tiveram tempo suficiente para formar o time ideal do Chelsea e do Real Madri, respectivamente. Eles mereciam sim um pouco mais de paciência. Afinal, os dois têm um currículo de glórias inimagináveis. Em 1991, o Estado de Santa Catarina não sonhava ter um time campeão da Copa do Brasil. Foi o que aconteceu com o Criciúma - único título dos catarinenses na competição. Depois disso, Felipão ganhou o troféu mais duas vezes (Grêmio, 1994 e Palmeiras 1998). Foram tantos títulos: Libertadores, Brasileiro, Mercosul, Recopa Sul-Americana, Copa da Ásia, Copa do Mundo... Todos.
Depois de tantas conquistas nacionais veio a carreira européia com a seleção de Portugal. Scolari adotou um esquema de jogo fantástico, apostou no brasileiro naturalizado português Deco, deu mais credibilidade para o craque lusitano Cristiano Ronaldo. A forma de jogar da seleção encantava o mundo. Definitivamente ele devolveu o respeito ao futebol português na Europa durante cinco anos e meio. Não conquistou nenhum título, mas o vice-campeonato Europeu em 2004 e a quarta posição na Copa do Mundo de 2006 foram comemorados com o mesmo valor.
A história de Felipão reflete na de Luxa. Em 1989 e 1990, dois títulos capitais para o sucesso como treinador: campeão Paulista e da Série B com o modesto Bragantino. Depois disso veio o Palmeiras. Foram dois brasileiros e quatro paulistas. Na carreira dele faltou apenas a Libertadores, que foi compensada na quantidade de Brasileiros. Ambos começaram a carreira em dois times sem expressão. Vanderlei, no Rio Branco em 1983, Felipão no CSA-AL, em 1982. Por onde passaram conquistaram títulos. Com tudo isso, não tem como não dar certo nos clubes europeus, a não ser pela tal filosofia européia ou panela mesmo dos craques. Aqui deu samba! E não é à toa que somos pentacampeões mundiais.
As fotos do É Craque! são todas de divulgação
Filosofia européia e... barata, só pode ser essa a desculpa
Por Bruno Félix
Postado por Bruno Félix às 14:18
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