Rugby já virou mania em Goiânia

Se você passar na praça do Parque das Laranjeiras aos domingos à tarde, é bem provável que veja um grupo de pessoas correndo pelo gramado e derrubando umas às outras. Se observar com mais atenção, verá que disputam uma bola oval e tentam carregá-la até a parte final do "campo" e tocar o solo com ela marcando um Try (cinco pontos). Pois é, não se trata de uma briga, mas sim do treinamento do Goiânia Rugby Clube, único time da Capital na modalidade.

Com dois anos de história, o clube ainda não sabe o "gostinho" da vitória, pois atuou em apenas cinco partidas amistosas contra um time de Brasília. Mas isso, no momento, é o menos importante. Afinal, eles querem a popularização do rugby, que em Goiânia não tem uma federação para organização de campeonatos ou jogos amistosos, tudo é organizado pelos próprios jogadores.

A modalidade ainda é pouco difundida no Brasil, mas no mundo é o segundo esporte mais assistido, perdendo apenas para o futebol. Para se ter uma idéia, a Copa do Mundo de Rugby disputada a cada quatro anos desde 1987, trata-se do terceiro evento desportivo mais visto no planeta (atrás apenas da Copa do Mundo de Futebol e dos Jogos Olímpicos). A penúltima edição do evento, ocorrida em 2003, foi assistida por mais de 3,4 bilhões de pessoas.

"É um esporte interessante. Quase todo mundo do time começou a jogar sem saber nada e foram aprendendo de acordo com o número de jogos que o time foi realizando", destacou o scrumhalf (armador) do time, Roberton Goston Júnior, 27, um dos fundadores do time goiano, que hoje conta com a participação de 26 jogadores, mas ele acrescenta que o número de praticantes chega a 50. Mais do que apaixonado pelo rugby, eles gostam também de comentar e comemorar cada partida. É o chamado "Terceiro Tempo".

Roberton começou a jogar rugby há cinco anos, após ter conhecido a modalidade pela televisão quando morava no Rio Grande do Sul. Há dois anos em Goiânia, ele conheceu um grupo de amigos apaixonados pelo esporte e continuou dando seqüência à prática. "Depois que você começa a jogar não pára mais". Natural de Alegrete-RS, Roberton destaca o rugby como um esporte de contato. Ele conta que os praticantes aprendem o jeito de trombar e de cair. "São muitas regras e demora um pouco até a pessoa se adaptar e conseguir se achar em campo. Cada jogador tem uma posição e cada posição, uma função definida", complementa.

Outra característica interessante do rugby é que os jogadores correm em direção à linha de gol, mas a bola deve sempre ser passada ao jogador de trás, criando jogadas que permitam avançar dessa forma. As equipes podem ser formadas por grupos de 15, 12, 10 ou sete competidores, quantidade que será determinada de acordo com as regras de cada etapa. O objetivo do jogo é marcar o maior número de pontos e cada "gol" no esporte vale cinco.

O hooker (defesa) e técnico do Goiânia Rugby Clube, Felipe Oliveira, 24, explica que as equipes de rugby não usam uniformes-armaduras como os esportistas de futebol americano, mas a modalidade exige boa tração nas pernas e tronco forte para resistir às disputas. "É necessário ter um bom condicionamento físico, porque é um esporte de muita resistência, mas qualquer pessoa pode praticá-lo, inclusive as mulheres", contou. "Rugby não é apenas um esporte, mas um estilo de vida", defendeu.

Rugby não é futebol americano

Quando o Goiânia Rugby Clube treina, os curiosos que resolvem se aproximar costumam confundir o esporte com o futebol americano. Mas, apesar de enganar os leigos, um não tem relação com o outro. "No futebol americano eles usam proteções rígidas, feitas de plástico e alumínio, como capacetes, shoulder pads (proteção para a região dos ombros), hip pads (proteção para a região da coxa) e luvas. No rugby, usamos apenas proteção bucal e a proteção de Deus", explica Felipe Oliveira, que junto com Roberton, fundou o primeiro time da Capital.

Ele conta que o jogo de rugby é diferenciado pelo coletivo. Felipe explica que o time tem que funcionar como uma engrenagem, onde as peças trabalham juntas. Se não for assim, o resultado é a derrota. "Você pode ter um cara muito bom no time, mas ele não vai salvar o time se os outros jogadores não jogarem com ele. Um depende do outro", justifica.

Regras

A disputa de rugby acontece num campo gramado, de dimensões semelhantes às de um campo de futebol. A bola é de couro, sem costura, em formato oval, maior e mais pesada que uma bola de futebol americano. O objetivo é colocá-la no in goal adversário, área localizada imediatamente após a linha de fundo. Para isso, é preciso apoiar a bola no chão, não vale apenas carregá-la na mão.

Durante o jogo, é possível chutar a bola (para a frente) ou somente passá-la com as mãos e, neste caso, só pode ser lançada para trás. Porém, no time que ataca, quem estiver à frente do chutador estará impedido (fora de jogo) até que seja ultrapassado pelo chutador ou até a jogada ser concluída.

O ato de derrubar o outro jogador chama-se tackle ou taclear. Só é permitido derrubar quem estiver carregando a bola, mas é infração gravíssima derrubar com as pernas ou passar rasteira em qualquer jogador, inclusive o que estiver com a bola. O jogo é paralisado quando a bola sai pela lateral, quando é cometida alguma infração ou marcado o ponto, mas a disputa não pára se a bola ou algum jogador caírem.

Fonte: Jornal Diário da Manhã - 03 de novembro