Bruno Félix

Para sediar os Jogos da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, as 17 capitais candidatas ao posto precisavam se sobressair nos critérios técnicos envolvendo os setores de saúde, segurança pública, tecnologia de informação, meio ambiente, capacidade aeroportuária, cultura, transporte coletivo, portos e rodoviárias, força econômica, tradição no futebol, capacidade da rede hoteleira e planos para ampliação de vagas e, claro, o projeto dos estádios. Então, supostamente levando em conta esses critérios, as 12 escolhidas pela Fifa foram: Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
A lista acabou com o sonho de Goiânia, que poderia estar no lugar de Natal ou Cuiabá, embora essa última estivesse numa disputa particular com Campo Grande para ser a subsede pantaneira. Algo até irônico: a cidade mais arborizada do mundo, com mais de 5 mil hectares de área contínua de mata, em parques e reservas ambientais, perdeu justamente para a ideia que decidiu destacar as riquezas ambientais brasileiras.
Esse fator acabaria mesmo deixando a capital de fora. Já que em relação a Natal, Goiânia leva vantagem apenas quanto a força do futebol. Estamos na oitava posição do ranking da CBF, enquando a capital Potiguar está em 12°. As inúmeras belezas naturais de Natal a fazem levar vantagem no turismo. A rede de hotéis da cidade conta com 26 mil leitos, que devem ser ampliados para a Copa. Goiânia tem 10 mil e apenas um cinco estrelas. Mesmo com o projeto de construção de novos, leitos, a capital goiana fica alguns passos atrás.
Para o principal problema da candidatura da capital, o aeroporto, uma semana antes do anúncio das sedes foi estabelecido um novo processo licitatório para retomar as obras, orçadas em R$ 339,24 milhões. Enquanto Natal já iniciou as obras do aeroporto da cidade, que terá capacidade para receber os modernos aviões projetados para transportar mais de 500 passageiros. A expectativa é que toda a obra da pista de pouso e do pátio de aeronaves seja concluída ainda este ano, pelo exército. Até dezembro, o investimento total da União na estrutura deve alcançar os R$ 159 milhões, contando com área reservada para hotéis e até parque temático.
Já a principal carta na manga de Cuiabá foi o prestígio do governador Blairo Maggi (PR) junto ao presidente da CBF Ricardo Teixeira, uma vez que a cidade é apenas a 22ª colocada no ranking da CBF e possui apenas 6.710 leitos e apenas um cinco estrelas. Para a Copa, devem ser construídos, no mínimo, novos três mil leitos, o que elevaria a capacidade para quase 10 mil leitos, número que Goiânia já tem.
Estádios
O principal projeto das candidatas a cidades-sedes era a modernização ou construção de novos estádios. Nesse quesito, Natal deu um banho nas concorrentes. O governo potiguar encomendou ao escritório de arquitetura Hok Sve, da Inglaterra – o maior do mundo em termos de construções esportivas - a construção da Arena das Dunas, que será construído em uma área de 45 hectares, onde também haverá bosque, hotéis, teatro, estacionamentos subterrâneos, prédios comerciais, shopping center e os centros administrativos do governo do Estado e da Prefeitura. O projeto foi orçado em R$ 300 milhões e terá capacidade para 45 mil torcedores e atende a todas as normas de segurança, acessibilidade, localização e infraestrutura.
O projeto de Cuiabá será a reforma do estádio Verdão com custo estimado de R$ 350 milhões. O estádio terá capacidade para 40 mil torcedores, com estacionamento para 15 mil vagas. Não haverá o fosso como no estádio atual e o público terá maior proximidade com o campo. Dois centros de treinamento, nas localidades do Lago de Manso e na Chapada dos Guimarães também fazem parte do projeto.
Enquanto as duas cidades ousaram nos projetos, Goiânia foi conservadora. O projeto de reforma do estádio Serra Dourada custará R$ 180 milhões, pouco mais que a metade das duas cidades que a deixaram de fora. A reforma contempla uma revisão das divisões internas e de apoio e circulação, a adequação da infraestrutura tecnológica e elétrica, a cobertura das arquibancadas, além da construção de um anexo de apoio de nove mil metros quadrados de área que receberá os novos vestiários, as salas das delegações, da Fifa e de imprensa. Nenhuma inovação que encantasse os olhos da Fifa.
ENTREVISTA - YURI BASTOS JORGE

Em entrevista ao É Craque!, o presidente do Comitê Pró-Copa do Mundo em Cuiabá e secretário de Turismo Yuri Bastos Jorge, rebateu o pronunciamento do presidente do Comitê Executivo da Copa do Mundo 2014 (Coexgyn), Barbosa Neto, no último domingo (31), logo após o fracasso da candidatura da capital. Barbosa disse: "Infelizmente a oitava posição no ranking do futebol da CBF perde para a 22ª (Cuiabá-MG). Enfim, política e futebol é uma caixa de surpresa". Confira a entrevista.
É Craque!- O presidente do Comitê Executivo da Copa do Mundo 2014 (Coexgyn), Barbosa Neto, disse após a derrota que houve um favorecimento político a Cuiabá. Como você avalia a opinião dele?
Yuri Bastos - Primeiro eu gostaria que a avaliação dele não fosse essa, mas já que é, eu respondo dizendo que tenho orgulho do Estado do Mato Grosso politicamente ter uma liderança política no cenário nacional e internacional. As decisões da Fifa são mais técnicas do que políticas, mas se a entidade decidiu politicamente por Cuiabá eu tenho que ficar orgulhoso pela liderança do governador Blairo Maggi (PR). Ao mesmo tempo, o Barbosa não pode desprezar duas outras coisas: o trabalho técnico que foi feito. Mato Grosso acreditou, contratou uma empresa para isso, tocamos o projeto muito a sério. Foram quase dois anos de trabalho pensando em Copa do Mundo de manhã, à tarde e à noite. E, por último, o estado do Mato Grosso tem uma importância no cenário nacional. A comida que o Barbosa come hoje pode estar vindo do Mato Grosso, somos um dos maiores produtores do país. Temos o Pantanal, a Chapada do Guimarães e nada disso pode ser desprezado.
É Craque! - Qual a relação do Blairo Maggi (PR) com o Ricardo Teixeira?
Yuri - Nós não acreditamos num possível favorecimento político. Isso é subestimar. Não se pode desmerecer quem ganhou. O Blairo Maggi tem respeito político. Agora, só isso decide sede? Não. Por favor, não desmereçam nosso estado e o trabalho que foi feito.
É Craque! - Qual foi a força do projeto de Cuiabá?
Yuri - Muita organização, sempre estivemos acompanhados de profissionais especializados no assunto Copa do Mundo, que já tocou Mundial em outros países junto à Fifa. Nosso projeto teve três pilares importantes: organização, unidade política e da população e a capacidade financeira do estado. Fizemos a criação de um fundo que terá um saldo de R$ 400 milhões para a construção do Estádio, e esse fundo já tem R$ 100 milhões na conta.
É Craque!- Por que Goiânia ficou de fora?
Yuri - O grande problema de Goiânia não foi planejamento, foi a proximidade com Brasília que já era sede. Desde o início, a capital federal já era sede e não acreditava em duas sedes tão próximas uma da outra. Mas eu torci por Goiânia, conheço a capital e acho uma bela cidade. Agora, nós trabalhamos duro e tivemos mais coisa para mostrar.
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