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Morre aos 24 anos Paulo Ramos, ex-jogador do Vila

Por Bruno Félix


O clima foi de muita tristeza ontem (3 de setembro) no Cemitério Jardim das Palmeiras durante o velório do ex-jogador Paulo Ramos, 24 anos, ídolo da torcida da torcida vilanovense. O meia-atacante morreu em decorrência de parada cardiorrespiratória na noite da última terça-feira, quando passou mal durante uma partida recreativa com os amigos, na Chácara do Gonçalves, na saída para Inhumas. Paulo Ramos sofria de arritmia cardíaca, descoberta em 2006, quando atuava no Grêmio. No ano passado, quando jogava pelo colorado, o apoiador foi afastado devido ao agravamento do problema e não voltou mais aos gramados profissionalmente.

Apesar da pouca idade, Paulo Ramos era muito querido pelos torcedores vilanovenses e do grupo colorado. O melhor momento da carreira do meia-atacante foi em 2005 na disputa da Copa São Paulo Jr., quando o Vila caiu nos pênaltis diante do Corinthians. "Ele foi o principal nome do time, melhor jogador da Taça e tinha tudo para ser um dos grandes atletas do futebol mundial, mas infelizmente um problema o afastou dos gramados", lamentou o volante Leandro, que fez parte do elenco na disputa da competição paulista.

Leandro fez questão de lembrar a luta do meia-atacante para voltar aos gramados. Segundo ele, Paulo Ramos era um lutador, que não desistiu em momento algum da carreira de jogador de futebol. "Não faltava otimismo da parte dele. Isso era a vida do Paulo Ramos. Quando fiquei sabendo da notícia nem dormi direito", desabafou. "Ele foi um dos melhores jogadores que vi atuar e conquistou em pouco tempo de carreira títulos importantes", concluiu.

O volante Álisson, amigo de Paulo Ramos e remanescente do grupo da Copa São Paulo de 2005, contou que ficou sabendo da morte do jogador quando fazia compras no supermercado com a noiva. "Até agora não acredito. Acompanhei o melhor momento da carreira dele, em 2005, e infelizmente vivi o drama quando ele recebeu a notícia de que não poderia voltar a jogar", lembra. Segundo Álisson, Paulo Ramos nunca desistiu de voltar a atuar com a camisa do Vila.

Álisson revelou que na próxima segunda-feira o amigo iria fazer uma nova bateria de exames em São Paulo. "Ele acreditava 100% que voltaria a fazer aquilo que gosta. Espero que a família fique bem porque ele irá deixar saudades para todo mundo", declarou. Sobre a trajetória do atleta, Álisson disse que já nas categorias de base Paulo Ramos se destacava entre os demais atletas. "Ele era um cara diferenciado, que trazia muita alegria ao grupo", completou.

Paulo Ramos, revelado no Vila, teve a primeira oportunidade de brilhar com a camisa do Tigrão na gestão de Paulo Diniz, em 2002, que junto com a cúpula vilanovense apostou no talento do garoto. No ano seguinte, ele foi promovido para a categoria de Juniores e, mais tarde, ganhou a chance de atuar nos profissionais. "É uma perda irreparável, ela era um jogador que tinha um futuro brilhante se não fosse a doença", destacou Paulo Diniz, bastante emocionado.

Persistência

Quando recebeu o comunicado que não poderia mais jogar futebol, em 2008, pelo Departamento Médico do Vila Nova, Paulo Ramos não jogou a toalha. Ele continuou apostando que poderia superar o drama. Foram várias consultas médicas e as respostas não eram nada animadoras. Mesmo sabendo que corria risco de morte, o meia-atacante continuava jogando bola nos campos amadores. Na última terça-feira, numa dessas diversões de Paulo Ramos, na Chácara do Gonçalves, na saída para Inhumas, ele caiu e não levantou mais, logo após que precisou dar um pique para recuperar uma jogada perdida.

Segundo Cleuzomar Barbosa, ex-jogador do Goiás, e que estava participando da partida, Paulo Ramos nunca deixou de se reunir com os amigos para jogar uma “pelada”. “Jogamos na semana retrasada e não aconteceu nada com ele. Sempre que podíamos marcávamos um encontro para se divertir”, comentou. Porém, Paulo Ramos estava proibido de exercer qualquer atividade física. “Ele não comentava sobre o problema cardíaco. Todos nós sabíamos e tínhamos maior cuidado com o Paulo Ramos. Infelizmente foi fatal”, completou Barbosa.

ENTREVISTA

“O Paulo Ramos tinha total consciência do risco que correria se voltasse a jogar futebol”, declarou o médico do Vila Nova, Dr. Ricardo Couto, em entrevista ao Diário da Manhã. Segundo Ricardo, quando o meia-atacante voltou ao clube em 2008, foi realizada uma bateria de exames no atleta, por meio dos quais foi constatado que ele não poderia mais atuar como um jogador de futebol. “A preocupação não era mais com o Paulo Ramos atleta de futebol, e sim como uma pessoa, por causa do risco que ele podia desenvolver não só como jogador profissional, mas também com qualquer atividade física recreacional”, lembra. “O sentimento é de tristeza de todos que conviviam com o Paulo Ramos, que era uma pessoa sempre de bem com a vida. Infelizmente aconteceu o falecimento durante uma partida de futebol entre amigos”.

É Craque!: O Paulo Ramos tinha consciência que corria de morte ao praticar atividade física?

Ricardo: A história do Paulo começa nos exames de rotina que os clubes realizam nos seus atletas. Com ele foi detectado uma doença cardíaca quando retornou ao Vila em 2008, depois do período que passou no Grêmio, onde o problema foi descoberto. Chegando aqui foram analisados os exames que ele fez no Sul e o atleta também realizou outra série de baterias. Ele passou por vários especialistas na área em Goiânia. A conclusão final foi que a preocupação não era mais com o Paulo Ramos atleta de futebol, e sim como uma pessoa, por causa do risco que ele podia desenvolver não só como atleta profissional, mas também com qualquer atividade física recreacional.

É Craque!: Ele não aceitou as negativas sobre o fim precoce da carreira?

Ricardo: Isso foi passado ao Vila e foi seguido pelo clube. Ele foi afastado e precisava de um seguimento de tratamento, mesmo afastado do futebol. Em busca de outras respostas, ele procurou outros especialistas em Porto Alegre e São Paulo, o que era um direito dele como qualquer paciente. No momento em que ele conseguisse qualquer documento liberatório para voltar aos gramados voltaríamos a discutir o caso dele. Então o Paulo tinha total consciência do risco que corria. Mas é difícil analisar a situação de uma atleta jovem, que nunca teve sintomas nenhum de patologia, para aceitar o encerramento de uma carreira promissora.

É Craque!: Como o Vila tratou o caso do Paulo Ramos?

Ricardo: O Sérgio Rassi, especialista em arritmia em Goiânia, foi um dos especialistas que avaliou o Paulo Ramos. Ele foi muito claro com o Vila, com o Paulo Ramos e com a família dele. Disse que se o jogador voltasse a praticar qualquer atividade física ele corria risco de morte. Rassi sugeriu que ele deveria continuar o tratamento na vida dele como pessoa e não como atleta. Então foi isso que foi acatado pelo Departamento Médico do Vila. O laudo era para a interrupção da carreira.

É Craque!: Como estava o acompanhamento do Vila com o jogador?

Ricardo: Arritmia é um transtorno de um sistema que controla os batimentos cardíacos e isso pode levar a um mal súbito. Existem vários tipos de arritmias. Algumas pessoas podem conviver perfeitamente com a doença e outras que apresentam risco de morte. O clube tem de ter um suporte na especialidade e os colegas que procuramos são qualificados para fazer uma interrupção de carreira e foi o que o Vila seguiu.

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